16 julho 2005

Patrícia Tiago, Outra Manhã

A ideia surgiu ao olhar para as janelas de Lisboa e para os estendais de roupa e começou exactamente ao contrário do que é esperado. Queria expor as fotografias em estendais de roupa, como se fossem peças de roupa a secar.

Em seguida pensei no tema que queria fotografar. O interior de uma casa. Quantas vezes olhamos para as janelas e nos perguntamos sobre quem habita aquela casa? O que fará na vida? Que histórias terá para contar?

Por fim, lembrei-me de mais um factor a ter em conta numa grande cidade. A solidão. Vizinhos não se conhecem e acabam por levar vidas muito paralelas, sem no entanto se falarem – ambos estendem a sua roupa no varão, de manhã.

As fotografias mostram as manhãs destas duas pessoas, em tudo diferentes: idade, forma fisica e actividade. A única coisa que as aproxima é o facto de viverem lado a lado e de estenderem a roupa à mesma hora.

Penso então colocar imagens a preto e branco, verticais e horizontais, fotografadas a 3200 ASA, com esquadria branca irregular. O grão daria mais a sensação da textura da roupa e a irregularidade da esquadria a ideia de água a escorrer. Seriam presas com molas de madeira ao estendal. Seriam colocados dois estendais de roupa paralelos, que representariam duas casas, duas pessoas muito diferentes e duas vivências distintas, procurando que as imagens traduzissem alguma solidão que caracteriza a vida nas grandes cidades.

-------------//-------//-------------