19 julho 2005

Pedro Amaral, Es(passo) Fugaz

O PROJECTO_LISBOA para mim estará em constante evolução mesmo quando o final lhe seja declarado.
Tal como a mutação e fugacidade da Lisboa que pretendo agarrar são os meus sentimentos diários que sinto pela cidade. É o eu na cidade que foge e me marca para amanhã a sentir de maneira diferente.

Em tempos assinei como minhas vontades fotografar A cidade de Lisboa [que] é marcada pela passagem de quem em cada porto chega e “abarca” e é sentida por todos que desses ficam amarrados, tendo como batedor a escrita poética ou acutilante de quem, como eu, já sentiu, sente ou sentirá estas vidas fugitivas. Quero sentir nas palavras de quem o escreveu aquilo que vejo e quero retratar de uma maneira não imediatamente perceptível. Na altura eram (só) uma RESENHA DE SENTIMENTOS PESSOAIS SOBRE O PROJECTO_LISBOA NUMA PÁGINA, hoje são uma realidade mais sentida. Susana Paiva ajuda ao escrever-me que “Fonte de riqueza, o que aporta, é também fonte de angústia na hora da partida. Talvez as cidades portuárias estejam hoje em mutação e Lisboa não seja uma excepção”. Incentiva ainda o cruzamento do meu “desejo interior, certamente partilhado por tantos outros, [...] com a história e o sentir português”.

Antonio Tabucchi escreveu e eu subscrevo: “Talvez o verdadeiro sentido de Lisboa seja essa singularidade de ser incerto o limite entre a chegada e a partida”. Esta incerteza quase humana de amanhã se partir da Lisboa a que hoje se chegou, faz-me sentir as relações humanas de quem vive, de quem foge, de quem ama e de quem afirma esta cidade como se de um amor se tratasse.

Lisboa é, só pode ser, mulher; quero sentir o seu olhar, cruzo-me com ela porque tenho que ir mais além ou apenas a olho com a indiferença de quem outras (que por sentir mais como minhas) quero. Choro por ela quando parto e ela me acena de qualquer cais; choro outras vezes quando chego e ela parece indiferente. E rio-me com ela, também fujo dela. Assim a sinto intensamente.
Projecto imagens de Lisboa no corpo de mulher, fotografo a Lisboa que para mim é mulher. São imagens despretensiosas de Lisboa que respira a cada esquina. A projecção (por si só) marca a mutação que Lisboa sofre. O que se fotografa agora no corpo de mulher já foi Lisboa de ontem, agora estará diferente. Assim acontece de dia para dia. Por momentos a mutação é demorada só para se poder olhar na mulher que a encarna agora! E amanhã, será diferente.

São fugazes os passos que damos no amor, que damos na paixão. Eu sinto Lisboa assim: em passos fugazes. Damos passos em conjunto, sentimo-nos e marcamo-nos mutuamente. Depois do agora, não sei.
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