13 novembro 2005

Milene Trindade, No caminho para o sono

O lugar de habitação apresenta-se como o espaço onde a pessoa se move numa repetição quotidiana da acção. As personagens cruzam-se entre as paredes de um apertado corredor ou de uma íngreme escadaria, trocando entre si gestos resultantes de histórias passadas.
O corpo aparece e desaparece no espaço como uma memória que surge em fragmentos turvos até se apagar. Fazendo com que a lembrança remeta para o passado de quem não está, deixa-se na sua ausência os percursos e hábitos de quem um dia ali viveu.
Como se de um filme se tratasse, vai-se retirando excertos de película e construindo uma narrativa através do espaço de representação. O encenar do movimento no lugar, estrutura vagarosamente a intenção da passagem que termina no descanso, esquecendo durante o sono o acontecimento.
A auto-representação, aproximando-se aqui do auto-retrato, trabalha o elo existente entre quem habitou a casa e quem a habita no tempo de hoje.
Confronta-se assim, a experiência presente com o passado ausente, numa tentativa de registar o encontro entre o corpo e o espaço.
A fotografia funciona como o registo da intervenção no espaço, sendo a acção no mesmo de carácter performativo. Toda a caracterização do cenário e personagem e, sobretudo a construção até se obter a imagem, acontece como uma ocupação do espaço onde o corpo age de forma a reflectir o comportamento e atitude de quem atravessa repetitivamente o lugar.
O trabalho interventivo no local é feito na intimidade do corpo com o espaço, existindo uma união entre ambos e, por sua vez, entre as histórias que um dia se contaram e agora se repetem.

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