06 janeiro 2006

José Carlos Martins, Ainda sem nome

O trabalho "Ainda sem nome" divide-se em dois aspectos que acho relevantes; o aspecto técnico e o estético.
O primeiro consiste numa abordagem mais "alternativa" conjugando dois processos "menos comuns" (se é que se podem chamar assim), mais concretamente a utilização de uma câmara PinHole em suporte de filme P&B, no formato 9x12 e a sua impressão em papel de aguarela emulsionado com emulsão líquida, sendo esta impressão feita por contacto.
Quanto ao aspecto estético, basicamente, e devido às longas exposições serem uma característica das câmaras PinHole (algumas), as imagens acabaram por ficar despidas de presença humana, o que acabou por me agradar e por ficar como característ ica principal deste trabalho.
Vendo eu Lisboa como uma cidade cada vez mais "deserta", talvez por ser de fora, esta abordagem pareceu-me chamar a atenção para um problema que, na minha maneira de ver as coisas, se vai instalando sem dar-mos conta, não só em Lisboa mas em muitas outras grandes cidades.
Esta "desertificação" faz com que muitas vezes nos sintamos sós, mesmo quando rodeados de multidões.
Ao obter estas imagens, apercebi-me o quanto é indiferente aos transeuntes, a minha presença ali, mesmo com todo o aparato de tripés, sacos câmaraescura, deitado no chão e principalmente com uma "lata" a apontar para um lugar qualquer.
Esta indiferença é particularmente preocupante quando se utilizam locais públicos (como centros comerciais ou estações de correios), para trocar os negativos da PinHole, dentro de um saco preto, onde ninguém sabe o que se passa lá dentro. Podia até ser uma bomba.
Como objectos a fotografar, acabei por encontrar nas praças e largos de Lisboa o ambiente que mais reflectia a minha maneira de ver este isolamento e "desumanização" desta cidade, uma vez que estes locais seriam, no meu imaginário, locais de encontro e convívio entre as pessoas.
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